SE O TEMPO FOSSE OURO..., TALVEZ PUDESSES PERDÊ-LO. - MAS O TEMPO É VIDA, E TU NÃO SABES QUANTA TE RESTA.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Declaração da CNBB sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – 3)



A promoção e a defesa dos Direitos Humanos tem sido um dos eixos fundamentais da atuação e missão evangelizadora da CNBB em nosso país. Comprovam-no as iniciativas em prol da democracia; as Campanhas da Fraternidade; a busca pela concretização da Lei 9840 – contra a corrupção eleitoral; a recente Campanha “Ficha Limpa”; a defesa dos povos indígenas e afro-descendentes; o empenho pela Reforma Agrária, a justa distribuição da terra, a ecologia e a preservação do meio ambiente; o apoio na elaboração dos Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Igualdade Racial, entre outros.


Neste contexto, a CNBB se apresenta, mais uma vez, desejosa de participar do diálogo nacional que agora se instaura, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), tornado público aos 21 de dezembro de 2009.
A Igreja Católica considera o movimento rumo à identificação e à proclamação dos direitos humanos como um dos mais relevantes esforços para responder de modo eficaz às exigências imprescindíveis da dignidade humana (cf. Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis Humanae, 1). O Papa João Paulo II, em seu Discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas, em 21 de outubro de 1979, definiu a Declaração Universal dos Diretos Humanos como “uma pedra miliária no caminho do progresso moral da humanidade”.

O Brasil foi uma das 171 nações signatárias da Declaração de Viena, fruto da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, em 1993, sob o signo da indissociabilidade entre Democracia, Desenvolvimento Econômico e Direitos Humanos.

No entanto, em sua defesa dos Direitos Humanos, a Igreja se baseia na concepção de Pessoa Humana que lhe advém da fé e da razão natural. Diante de tantos reducionismos que consideram apenas alguns aspectos ou dimensões do ser humano, é missão da Igreja anunciar uma antropologia integral, uma visão de pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus e chamada, em Cristo, a uma comunhão de vida eterna com o seu Criador. A pessoa humana é, assim, sagrada, desde o momento de sua concepção até o seu fim natural. A raiz dos direitos humanos há de ser buscada na dignidade que pertence a cada ser humano (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 27). “A fonte última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio ser humano e em Deus seu Criador” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 153). Tais direitos são “universais, invioláveis e inalienáveis” (JOÃO XXIII, Encíclica Pacem in Terris, 9).

Diante destas convicções, a CNBB tem, ao longo de sua história, se manifestado sobre vários temas contidos no atual Programa Nacional de Direitos Humanos. Nele há elementos de consenso que podem e devem ser implementados imediatamente. Entretanto, ele contém elementos de dissenso que requerem tempo para o exercício do diálogo, sem o qual não se construirá a sonhada democracia participativa, onde os direitos sejam respeitados e os deveres observados.

A CNBB reafirma sua posição, muitas vezes manifestada, em defesa da vida e da família, e contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças por casais homoafetivos. Rejeita, também, a criação de “mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas.

Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploramos as luzes de Deus, para que, juntos, possamos construir uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Brasília, 15 de janeiro de 2010



Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB



Ciência x Ética - célula sintética




Cientistas e religiosos apoiam célula sintética, mas pedem cautela
Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil

RIO - A notícia de que cientistas americanos criaram uma célula sintética, a partir de um DNA produzido num programa de computador, ao mesmo tempo em que cria um novo marco na ciência, por outro lado traz uma compreensível apreensão sobre os riscos da nova tecnologia. Afinal, um novo organismo pode ameaçar a saúde humana ou comprometer o meio ambiente? As coisas podem fugir do controle? A resposta, segundo cientistas brasileiros ouvidos pelo JB é não e sim.
– A tecnologia em si não é perigosa – diz o geneticista Paulo Andrade, da Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio). – Depende do objetivo de quem a a usa. Santos Dumont inventou o avião, que serviu tanto para o bem como para o mal. É claro que se esta nova tecnologia cair em mãos erradas pode haver riscos.
Outro cientista brasileiro, o biólogo celular Radovan Borojevic, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, diz que a tecnologia desenvolvida por Craig Venter e sua equipe pode até contribuir para uma maior segurança na produção de medicamentos, por exemplo.
– Se você produz um medicamento dentro de uma bactéria natural, você não controla o processo integralmente – diz Borojevic. – Mas no caso de uma bactéria ou um micro-organismo artificial, se você controla o DNA consegue também ter um controle praticamente absoluto do processo.
Máquina de DNA
Na experiência anunciada pelo americano Craig Venter, o DNA de uma bactéria foi decodificado e depois reescrito num programa de computador. Este DNA desenhado foi montado por uma máquina especial e introduzido numa outra bactéria, da qual havia sido retirado o núcleo. Esta última bactéria ao receber o DNA artificial passou a se reproduzir.
O biólogo molecular do Laboratório de Pesquisa em Bioinformática do Instituto Oswaldo Cruz, Wim Begrave, considera a criação da célula artificial um divisor de águas.
– Este tipo de experiência vem sendo feita há algum tempo. Mas com pequenas sequências de DNA. Já a equipe de Craig Venter conseguiu sintetizar artificialmente um genoma completo, de um milhão de nucleotídeos, que são as peças do DNA, como a adenina e a citosina – explica Begrave.
Begrave vê alguns riscos no uso da tecnologia, mas acredita que eles podem ser controlados. Segundo ele, o maior risco seria a bactéria artificial interagir com o meio ambiente e se recombinar com outros organismos.
– Porém, como o DNA da bactéria artificial é manipulado, ele pode receber mecanismos ou instruções de segurança. Ele pode ser criado para sobreviver apenas num tipo de ambiente – exemplifica.
O risco de a tecnologia cair em mãos erradas existe. Mas isto não seria exclusividade da célula artificial.
– É o mesmo risco de outras tecnologias, como a energia nuclear, a engenharia genética, a clonagem e a produção de produtos tóxicos – diz Radovan Borojevic, da UFRJ.
Grave, do Instituto Oswaldo Cruz, também é otimista quanto a riscos e benefícios.
– O experimento é mais positivo do que negativo. O que foi feito pela equipe de Venter vai determinar o futuro da biotecnologia. O leque de aplicações é ilimitado – comenta.
O geneticista da Comissão Brasileira de Biossegurança Paulo Andrade diz que estas experiências envolvendo biotecnologia têm um controle muito rigoroso feito pelos países.
– Nossa comissão já está examinando esta questão. Podemos assegurar que experiências deste tipo só são feitas depois de uma rigorosa avaliação e exame prévio – garante o especialista.


Obama pede estudo, e ambientalistas torcem o nariz
O anúncio de que cientistas americanos conseguiram criar uma bactéria a partir de um genoma sintético provocou uma reação imediata do governo dos Estados Unidos. O presidente americano, Barack Obama, pediu a assessores especializados para que elaborem um relatório sobre as implicações da nova tecnologia. Segundo ele, o objetivo da medida é “garantir que os Estados Unidos colham os benefícios desse área científica enquanto identificam os limites éticos e diminuem os riscos”.
Para Pat Mooney, diretor do ETC Group, organismo internacional de controle das novas tecnologias, com sede no Canadá, a descoberta científica é uma verdadeira “caixa de Pandora”, uma vez que formas de vida criadas em laboratório podem se converter em armas biológicas ou até mesmo ameaçar a biodiversidade natural.
“A biologia sintética é um campo de atividade de alto risco mal compreendida e motivada pela busca de lucros”, afirmou Mooney em comunicado.
Grupos ambientalistas também reagiram mal ao anúncio da descoberta. O ONG americana Friends of the Earth divulgou um comunicado pedindo a Agência de Proteção Ambiental americana para “regular plenamente todas as experiências de biologia sintética e produtos”, e criticando o pedido de patente feito pelo laboratório que criou o genoma sintético.
Ceticismo
Apesar do alvoroço em torno da primeira célula sintética, cientistas entrevistados pelo New York Times disseram que, além de montar um grande pedaço de DNA, a equipe de Venter não abriu novos caminhos.
“Na minha opinião, Craig exagerou a importância deste avanço”, disse ao Times David Baltimore, um geneticista da Caltech. “Vinter não criou a vida, só a imitou”.
Baltimore lembra que, em 2002, Eckard Wimmer, da Universidade Estadual de Nova York, sintetizou o genoma do vírus da poliomielite. O trabalho de Venter sobre a bactéria é similar em princípio, exceto que o genoma do vírus é muito menor do que o genoma da bactéria.



Igreja vê a descoberta como um progresso
Flávia Salme
Entre religiosos católicos e teólogos, a criação da primeira célula artificial a partir de um genoma criado por computador foi recebida com cautela. A principal dúvida gira em torno da finalidade da utilização do experimento e das garantias de que a nova célula será usada para o bem da humanidade.
– A notícia é esperançosa, a gente viu um progresso, não um inimigo. É a chance de a ciência contribuir com a humanidade, com o meio ambiente. Se conseguir ajudar a sociedade, permitindo-lhe melhor qualidade de vida, será bom – avalia dom Antônio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e integrante das comissões para a vida e a família e de biotética da entidade.

Formado em medicina pela USP, dom Augusto, porém, pede cautela:
– O princípio científico que rege todo o trabalho é a questão da ética, vide a energia nuclear. Pode ser usada para fins energéticos, mas pode virar um armamento belicista. A liberdade para a utilização desse nova célula precisa ser limitada pela consciência humana.


Filosofia
A criação da vida artificial pelo cientista Craig Venter também chamou a atenção do filósofo Leandro Konder.



– Não dedico meus estudos à questão da genética, minha causa é filosófica. Contudo, é certo que a ciência precisa progredir, mas é sempre preciso dar garantias de que esses novos experimentos serão utilizados a favor da vida. A questão da limitação política que os governos devem dar é certa. Como leigo, prezo, pelo menos, o mínimo de sensatez.


No Vaticano, o jornal oficial L'Osservatore Romano afirmou que o experimento trata-se de “um motor muito bom, mas não é a vida”. O jornal anuncia na primeira página a descoberta científica e confia ao pediatra Carlo Bellieni a tarefa de fazer o primeiro comentário oficial.



É “um trabalho de engenharia genética de alto nível, na realidade, a vida não foi criada. Houve uma substituição em um de seus motores”, escreve o médico.
>> Saiba mais sobre a experiência
* Processo
A célula foi criada pela junção do genoma de uma célula chamada Mycoplasma mycoides a partir de trechos menores de DNA sintetizado no laboratório, e pela inserção do genoma no núcelo vazio de uma outra bactéria. O genoma transplantado passou a operar na célula hospedeira, e depois se replicou em bilhões de células Mycoplasma mycoides.



* Códigos
O cientista Craig Venter, um dos responsáveis pela decodificação do genoma humano, e sua equipe introduziram marcadores, ou informações, no genoma sintético. Eles contêm os nomes de 46 cientistas no projeto e várias citações literárias e filosóficas (incluindo James Joyce, Robert Oppenheimer e Richard Feynman).
* Vida?
Venter diz que não criou vida, mas a primeira célula sintética. “Nós definitivamente não criamos vida do zero porque usamos uma célula recipiente para inicializar o cromossomo sintético”, esclarece.
* Utilidades
O trabalho de Venter serviu para provar uma hipótese, mas futuras células sintéticas poderiam ser usadas para criar remédios, biocombustíveis e outros produtos úteis. Ele está colaborando com a Exxon Mobil para produzir biocombustíveis a partir de algas e com a Novartis para criar vacinas.
* Ferramenta
Andy Ellington, biólogo da Universidade do Texas em Austin vê a bactéria sintética como potencial ferramenta científica. Seria interessante, diz, criar bactéria que produz um novo aminoácido (unidades químicas que compõem proteínas) e ver como essa bactéria evolui, comparado com bactérias que produzem o conjunto usual de aminoácidos.
* Custo
O custo da operação chega a aproximadamente US$ 40 milhões. Barato para um magnata, caro para um cientista de laboratório querendo criar a própria bactéria sintética. Não parece o tipo de coisa que vá ser factível para o laboratório médio no futuro próximo, diz o biólogo Ellington.
* Precaução
A equipe de Venter tirou os genes que permitem que Mycoplasma mycoides causem doença. A bactéria também foi moldada de forma a não crescer fora do laboratório.
* Perigo
George Church, biólogo da Harvard Medical School, defende maior vigilância, licenciamento e outras medidas para evitar liberação acidental da vida sintética. Ellington refuta o perigo, destacando que a dificuldade de criar células está além do alcance de todos os possíveis bioterroristas.